As calçadas de uma cidade revelam o entendimento que o gestor público tem sobre o livre e seguro caminhar nos espaços urbanos.
Mas o que essencialmente torna uma calçada segura? A circulação regular de pessoas. E o que provoca a circulação regular das pessoas? As necessidades mais simples que se tem dos usos que a calçada permite fazer: o corre-corre das crianças, as assembleias de mães ao término das aulas dos filhos, o livre circular de um cadeirante, o passeio do idoso, andar de skate, ir ao cinema, à escola… tudo isso ao mesmo tempo.
Utilizar o espaço público, enfim, é o que o torna seguro.
Jan Gehl (2015) famoso urbanista cita que:
“(…) Independentemente do propósito uma caminhada pelo espaço urbano é uma espécie de “fórum” para as atividades sociais que acontecem durante o percurso, como parte integrante das atividades do pedestre. Cabeças voltam-se para os lados, os pedestres viram-se para ver tudo, ou cumprimentar ou falar com alguém. Caminhar é um meio de transporte, mas também um início potencial ou uma ocasião para outras atividades.”
O controle social dessa horda de desconhecidos que vivem numa metrópole não poderá ser feita unicamente pelo patrulhamento policial. Antes, será importante que seja realizado por sistemas e mecanismos, muitas vezes inconscientes, produzidos e aplicados pelo próprio povo.
Buscar a segurança no isolamento é retirar potência da mais eficiente forma de controle social que é aquele exercido pela própria sociedade.
Trata-se, em última análise, de um perverso sistema retroalimentativo: retiro-me do espaço público pela insegurança que ele cria em mim; ao me retirar, sou um a menos no exercício do controle social, que, efetivamente, enfraquece; a insegurança faz com que meu vizinho também abandone o espaço público, o que justifica em certa medida a minha deserção e também a do meu vizinho. Apenas para exemplificar: por que o parque do Ibirapuera, em São Paulo, é mais seguro?
É fundamental que o poder público se conscientize da sua importância no estabelecimento e na utilização dos espaços urbanos pela população e não beneficie terceiros que cobram da população o uso por metro quadrado.
*Hugo Duarte é professor e secretário-geral do Republicanos Capital SP
1 thoughts on “Os espaços urbanos | Hugo Duarte”
No meu Facebook pessoal e na minha página. Tenho várias fotos das calçadas. Que cada proprietário faz o que quer. Daí eu digo falta fiscalização, e daí lembro de fiscais sem brio, subornaveis. Só resta orar